quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sussurro - Capitulo 22

Vinte minutos depois eu e Patch chegamos encharcados na entrada de um hotel barato de beira de estrada. Eu não tinha falado nenhuma palavra para ele enquanto nós andamos rapidamente pela chuva com neve e agora eu não estava apenas ensopada, mas completamente... Enervada. A chuva caía em cascata e eu não achava que nós fossemos voltar ao Jeep em breve. O que deixava eu, Patch e um hotelzinho na mesma equação por uma indeterminada quantidade de tempo.
A porta tocou um sino quando entramos e o recepcionista ficou em pé abruptamente, espalhando migalhas de Cheetos para fora de seu colo. “O que vai ser?” ele disse, lambendo os dedos para limpar o lodo laranja. “Apenas vocês dois essa noite?”
“Nós p-p-precisamos do seu telefone emprestado,” eu disse batendo os dentes, esperando que ele entendesse meu pedido.
“Não podemos. As linhas estão fora do ar. Culpe a tempestade.”
“O que v-você quer dizer com as l-linhas estão f-fora do ar? Você tem um celular?”
O recepcionista olhou para o Patch.
“Ela quer um quarto para não fumantes,” Patch disse.
Eu virei meu rosto para o Patch. Você pirou? Eu murmurei.
O recepcionista digitou algumas teclas em seu computador. “Parece que nós temos... espere... Bingo! Um quarto king para não fumantes.”
“Vamos ficar com esse,” Patch disse. Ele olhou de lado para mim e os cantos dos seus lábios subiram. Eu estreitei os olhos.
Bem nessa hora as luzes acima de nossas cabeças piscaram e apagaram, deixando a recepção no escuro. Nós todos ficamos em silêncio por um momento antes de o recepcionista dar a volta e acender uma lanterna grande.
“Eu era escoteiro,” ele disse. “Antigamente. ‘Esteja preparado’.”
“Então você d-d-deve ter um celular?” eu disse.
“Eu tinha. Até que eu não pude mais pagar a conta.” Ele ergueu os ombros.
“O que posso dizer, minha mãe é econômica.”
A mãe dele? Ele deveria ter quarenta anos. Não que isso fosse da minha conta. Eu estava muito mais preocupada com o que minha mãe faria quando ela chegasse em casa do casamento e não me encontrasse lá.
“Como você quer pagar?” o recepcionista perguntou.
“Dinheiro,” Patch disse.
O recepcionista riu, balançando sua cabeça para cima e para baixo. “É uma forma popular de pagamento por aqui.” Ele se inclinou mais perto e disse em um tom confidencial. “Temos muitos habitantes que não querem suas atividades extracurriculares rastreadas, se é que você entende o que digo.”
A metade lógica do meu cérebro estava me dizendo que eu não podia considerar realmente passar a noite em um hotelzinho com o Patch.
“Isso é loucura,” eu disse para o Patch numa voz baixa.
“Eu sou louco.” Ele estava quase sorrindo novamente. “Por você. Quanto pela lanterna?” ele perguntou para o recepcionista.
O recepcionista procurou embaixo da mesa. “Eu tenho uma coisa ainda melhor: vela do tamanho-sobrevivência,” ele disse, colocando duas a nossa frente. Pegou um fósforo e acendeu. “São por conta da casa, sem custar nada a mais. Coloque uma no banheiro, a outra na área de dormir e vocês nunca perceberão a diferença. Eu mesmo vou jogar na caixa de fósforos. Se não houver mais nada, isso vai ser uma boa lembrança.”
“Obrigada,” Patch disse, pegando meu cotovelo e caminhou comigo pelo corredor.
No quarto 106, Patch fechou a porta atrás de nós. Ele colocou a vela na cabeceira da cama, em seguida a usou para espalhar luz. Tirando seu boné de beisebol, ele chacoalhou seus cabelos como um cachorro molhado.
“Você precisa de um banho quente,” ele disse. Dando alguns passos para trás, ele enfiou a cabeça dentro do banheiro. “Parece ter um sabonete e duas toalhas.”
Ergui um pouquinho meu queixo. “Você não pode me f-forçar a ficar aqui.” Eu tinha apenas concordado em vir tão longe porque primeiro: eu não queria ficar lá fora naquele aguaceiro e segundo: eu tinha muita esperança de encontrar um telefone.
“Isso parece mais uma pergunta que uma afirmação,” Patch disse.
“Então res-responda.”
Seu sorriso maroto apareceu. “É difícil concentrar em respostas com você assim.”
Eu olhei para baixo, para a camiseta preta do Patch, molhada e agarrada ao meu corpo. Eu rocei nele ao passar e fechei a porta do banheiro entre nós.
Virando a torneira para o quente, eu tirei a camiseta do Patch e minhas roupas. Um longo fio de cabelo preto estava grudado na parede do chuveiro, eu o peguei com um pedaço de papel higiênico antes de enxaguar a parede. Então eu entrei atrás da cortina do chuveiro, vendo minha pele brilhar com o calor.
Massageando com o sabonete meus músculos ao longo do meu pescoço e descendo pelos meus ombros, eu disse a mim mesma que eu podia lidar com dormir no mesmo quarto que o Patch. Não era o arranjo mais seguro ou esperto, mas eu tinha pessoalmente visto que nada aconteceu. Além do mais, que escolha eu tinha... certo?
A metade imprudente do meu cérebro riu para mim. Eu sabia o que eu estava pensando. No começo eu tinha me sentido atraída pelo Patch por um campo de força misterioso. Agora eu estava atraída por ele por alguma coisa inteiramente diferente.
Alguma coisa com muito calor envolvido. A conexão esta noite era inevitável. Em uma escala de um a dez, isso me assustava perto dos oito. E me excitava perto dos nove.
Eu desliguei a água, saí do chuveiro e sequei minha pele. Com um olhar para minhas roupas ensopadas foi tudo que precisei para saber que eu não desejava colocá-las novamente. Talvez haja uma secadora que funcione com moedas por perto... Uma que não necessite de eletricidade. Eu suspirei, coloquei minha segunda pele regata e minha calcinha, que tinham sobrevivido à chuva.
“Patch?” eu sussurrei pela porta.
“Feito?”
“Apague a vela.”
“Feito,” ele sussurrou pela porta. Sua risada soou tão suave que poderia ter sido um sussurro.
Apagando a vela do banheiro, eu saí, encontrando uma escuridão total.
Eu podia ouvir a respiração do Patch diretamente a minha frente. Eu não queria pensar no que ele estava – ou não estava – vestindo, e eu chacoalhei minha cabeça para quebrar a imagem que estava se formando em minha mente. “Minhas roupas estão ensopadas. Eu não tenho nada para vestir.”
Eu ouvi o som de um tecido deslizando como um rodo por sua pele.
“Sorte minha.” Sua camiseta aterrissou em uma pilha molhada aos nossos pés.
“Isso é realmente embaraçoso,” eu disse a ele.
Eu podia sentir seu sorriso. Ele ficou assim, muito perto.
“Você deveria tomar banho,” eu disse. “Agora.”
“Estou cheirando tão mal assim?”
Na verdade, ele cheirava muito bem. A fumaça tinha sumido, o cheiro de menta era mais forte.
Patch desapareceu dentro do banheiro. Ele reacendeu a vela e deixou a porta entreaberta, uma luz prateada se espalhava pelo chão e subia por uma parede.
Eu escorreguei minhas costas pela parede até que eu estava sentada no chão, então encostei minha cabeça na parede. Com toda honestidade, eu não podia ficar aqui esta noite. Eu tinha que voltar para casa. Eu tinha que reportar o corpo da mulher no saco. Eu devia? Como eu deveria reportar um corpo desaparecido? Fale sobre insano – que era a direção assustadora que meus pensamentos estavam começando a tomar.
Sem querer insistir na ideia de insanidade, eu me concentrei no meu argumento original. Eu não podia ficar aqui sabendo que a Vee estava com o Elliot, em perigo, quando eu estava salva.
Depois de um momento de consideração, eu decidi que precisava reformular aquele pensamento. Salva era um termo relativo. Enquanto o Patch estivesse por perto, eu não estava em perigo, mas isso não quer dizer que eu achava que ele agiria como meu anjo da guarda.
Imediatamente, eu desejei poder tirar o pensamento do anjo da guarda.
Invocando meu poder de persuasão, eu bani todos os pensamentos de anjos – guardiões, caídos ou de outro tipo – da minha cabeça. Eu disse a mim mesma que provavelmente eu estava ficando louca. Por tudo que eu sabia, eu tinha alucinado vendo a mulher da bolsa morrer. E eu tinha alucinado vendo as cicatrizes do Patch.
A água parou, um momento depois o Patch saiu vestindo apenas seu jeans molhado abaixo de sua cintura. Ele deixou a vela do banheiro acesa e a porta aberta. Uma cor suave brilhava pelo quarto.
Uma rápida olhada e eu podia dizer que o Patch passava várias horas da semana correndo e levantando pesos. Um corpo definido desse jeito não vinha sem suor e trabalho. De repente eu me senti embaraçada. Para não mencionar mole.
“Qual lado da cama você quer?” ele perguntou.
“Uh...”
Um sorriso matreiro. “Nervosa?”
“Não,” eu disse tão confiante quanto pude diante das circunstâncias. E as circunstâncias eram que eu estava mentindo através dos meus dentes.
“Você é uma péssima mentirosa,” ele disse, ainda sorrindo. “A pior que já vi.”
Eu coloquei minhas mãos no quadril e comuniquei um silencioso Como é?
“Venha aqui,” ele disse, me colocando em pé. Eu senti minha promessa de mais cedo sobre resistir, se derreter. Mais dez segundos ficando assim tão perto do Patch e minha defesa poderia explodir em mil pedaços.
Tinha um espelho pendurado na parede atrás dele e por cima do seu ombro eu vi as cicatrizes em ‘V’ invertido brilhando escuras em sua pele.
O meu corpo inteiro ficou rígido. Eu tentei piscar para afastar as cicatrizes, mas elas estavam lá.
Sem pensar, seu deslizei minhas mão para cima do seu peito e desci por suas costas. A ponta de um dedo roçou em sua cicatriz do lado direito.
Patch ficou tenso sob meu toque. Eu congelei, a ponta do meu dedo tremia na sua cicatriz. Eu levei um tempo para perceber que na verdade não era meu dedo que estava se mexendo, mas era eu. Eu inteira.
Eu fui sugada em uma correnteza suave e escura e tudo ficou preto.

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