quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sussurro - Capitulo 18

Na viagem de volta, Patch pegou a saída para Topsham e estacionou ao lado da histórica fábrica de papel Topsham na margem do rio Androscoggin. Certa vez a fábrica tinha sido usada para transformar a polpa das árvores em papel. Agora uma placa grande atravessava o lado do prédio e dizia CERVEJARIA SEA DOG CO. O rio era largo e agitado, com árvores antigas margeando os dois lados.
Ainda estava chovendo forte, e a noite tinha caído ao nosso redor. Eu tinha que dar um toque pra minha mãe em casa. Eu não tinha contado a ela que eu ia sair por que... Bem, a verdade é que o Patch não é o tipo de cara que as mães gostam. Ele é o tipo de que faz com que elas troquem as fechaduras da casa.
“Podemos fazer um lanchinho?” eu perguntei.
O Patch abriu a porta do lado do motorista. “Alguma coisa em particular?”
“Um sanduíche de peru. Mas sem picles. Oh, e sem maionese.”
Eu podia dizer que ganhei um de seus sorrisos que nunca chegavam à superfície. Parece que eu ganho muito desses. Desta vez, eu não descobri o que eu tinha falado para merecer.
“Vou ver o que posso fazer,” ele disse, deslizando para fora.
Patch deixou as chaves na ignição e o aquecedor ligado. Nos primeiros minutos eu revi nossa tarde muito longe na minha mente. E então isso me lembrou de que eu estava sozinha no Jeep do Patch. Seu espaço privado.
Se eu fosse o Patch, e eu quisesse esconder uma coisa muito secreta, não poderia ser no meu quarto, no meu armário da escola, nem mesmo na minha mochila, todos esses lugares podiam ser confiscados ou sofrer uma busca sem aviso prévio. Eu esconderia no meu Jeep preto brilhante com um sofisticado sistema de alarme.
Eu tirei meu cinto de segurança e remexi na pilha de livros didáticos próximos ao meu pé, sentindo um sorriso misterioso fluir na minha boca ao pensar em descobrir um dos segredos do Patch. Eu não estava esperando encontrar nada em particular; eu deveria ter procurado a combinação do seu armário ou o número do seu celular. Mexendo em uns papéis antigos da escola bagunçando os tapetes do chão, eu encontrei um perfumador de ambiente de pinho meio usado, um CD do AC/DC Highway to Hell, tocos de lápis e um recibo de uma 7-Eleven com a data de quarta feira às 10:18 P.M. Nada especialmente surpreendente ou revelador.
Eu abri o porta-luvas e fucei através do manual do carro e outros documentos oficiais. Tinha um brilho de cromado e meus dedos roçaram em um metal. Eu puxei uma lanterna de aço e a liguei, mas nada aconteceu. Eu desparafusei o fundo, achando que a lanterna tinha um pouco de luz, e com certeza, não tinha baterias. Eu me perguntei por que Patch tinha uma lanterna que não funcionava guardada em seu porta-luvas. Foi o último pensamento que tive antes que meus olhos pousassem em um líquido áspero que tinha secado na ponta da lanterna.
Sangue.
Muito cuidadosamente, eu guardei a lanterna no porta-luvas e a fechei fora do meu alcance de visão. Eu disse a mim mesma que havia muitas coisas que poderiam levar a ter sangue em uma lanterna. Como segurá-la com uma mão machucada, usá-la para empurrar um animal morto para fora da estrada… bater com força em um corpo até que a pele se rasgue.
Com meu coração batendo forte, eu pulei na primeira conclusão que se apresentou. Patch tinha mentido. Ele tinha atacado a Marcie. Ele tinha me deixado na noite de quarta, trocado a moto pelo Jeep, e saiu procurando ela. Ou talvez seus caminhos se cruzaram por acaso e ele agiu por impulso. De qualquer maneira, Marcie estava machucada, a polícia está envolvida e Patch era o culpado.
Racionalmente, eu sei que isso era uma conclusão precipitada e um grande salto, mas emocionalmente, as apostas eram altas demais para voltar e pensar sobre isso. Patch tinha um passado assustador e muitos, muitos segredos. Se violência brutal e sem sentido era um deles, eu não estava segura saindo sozinha com ele.
Um flash de luz no horizonte. O Patch saiu do restaurante e correu pelo estacionamento segurando uma sacola marrom em uma mão e dois refrigerantes na outra. Ele foi em direção ao lado do motorista e subiu no Jeep. Ele ergueu o boné e esfregou a chuva de seu cabelo. Ondas escuras saiam para todos os lados. Ele me passou a sacola marrom.
“Um sanduíche de peru, sem maionese e picles, e alguma coisa para segurá-lo embaixo.”
“Você atacou a Marcie Millar?” eu perguntei calmamente. “Eu quero a verdade – agora.”
O Patch abaixou sua 7UP da boca. Seus olhos cortaram os meus. “O que?”
“A lanterna no seu porta-luvas. Explique.”
“Você abriu meu porta-luvas?” Ele não pareceu aborrecido, mas também não pareceu satisfeito.
“A lanterna tem sangue seco nela. A polícia veio na minha casa mais cedo. Eles acham que eu estou envolvida. Marcie foi atacada na noite de quarta feira, logo depois que eu te disse que não a suportava.”
Patch deu uma risada curta, sem humor. “Você acha que eu usei a lanterna para bater na Marcie.”
Ele procurou atrás do banco e tirou uma arma grande. Eu gritei.
Ele se inclinou e tampou minha boca com sua mão. “Arma de Paintball,” ele disse. Seu tom era gelado.
Eu dividi os olhares entre a arma e o Patch, sentindo muito branco ao redor dos meus olhos.
“Eu joguei paintball no começo dessa semana,” ele disse. “Achei que já tínhamos superado isso.”
“I-Isso não explica o sangue na lanterna.”
“Não é sangue,” ele disse, “é tinta. Estávamos jogando Pega Bandeira.”
Meus olhos voltaram-se para o porta-luvas que guardava a lanterna. A lanterna era... A bandeira. Uma mistura de alívio, idiotice e culpa por ter acusado o Patch nadou através de mim. “Oh,” eu disse lamentando. “Eu – sinto muito.”
Mas parecia um pouco tarde para desculpas.
Patch ficou olhando diretamente para frente através do pára-brisa, respirando profundamente. Eu me perguntei se ele estava usando o silêncio para deixar sair um pouco da raiva. Afinal eu o tinha acusado de atacar uma pessoa. Eu me sentia horrível por isso, mas minha mente estava muito atrapalhada para pedir desculpas corretamente.
“Pela descrição que você fez da Marcie, parece que ela provavelmente tem alguns inimigos,” ele disse.
“Tenho certeza que a Vee e eu estamos no topo da lista,” eu disse, tentando melhorar o ambiente, mas tinha um fundo de verdade.
Patch estacionou na casa da fazenda e desligou o carro. Seu boné estava quase em cima de seus olhos, mas agora sua boca tinha uma sugestão de sorriso. Seus lábios pareciam macios e suaves e eu estava tendo dificuldades para desviar meu olhar. O melhor de tudo é que eu estava grata por ele parecer ter me perdoado.
“Vamos ter que trabalhar mais no nosso jogo de bilhar, Anjo,” o Patch disse.
“Por falar em bilhar.” Eu limpei minha garganta. “Eu gostaria de saber onde e quando você vai querer aquela... coisa que lhe devo.”
“Não essa noite.” Seus olhos assistiam os meus de perto, julgando minha resposta. Eu tinha sido pega entre o alívio da minha mente e desapontamento. Mas a maior parte era desapontamento.
“Eu tenho uma coisa para você,” Patch disse. Ele procurou debaixo do seu assento e puxou uma sacola de papel branca com pimentas vermelhas impressa. Uma embalagem para viagem da Borderline. Ele colocou entre nós.
“Pra que isso?” eu perguntei, espreitando dentro do saco, sem ter absolutamente nenhuma ideia do que teria lá dentro.
“Abra.”
Eu puxei uma caixa de papelão marrom para fora do saco e levantei a tampa. Dentro tinha um globo de neve com a miniatura do Parque de Diversões Delphic Seaport dentro. Fios de bronze foram torcidos formando um círculo para a roda gigante e para os loopings da montanha russa; chapas de metal manchado faziam o Tapete Mágico.
“É lindo,” eu disse, um pouco confusa por ele me comprar um presente. “Obrigada. De verdade. Eu adorei.”
Ele tocou o vidro curvado. “Aqui é o Arcanjo, antes de ser remodelado.” Atrás da roda gigante, um fio fino com fitas formava os montes e vales do Arcanjo. Um anjo com as asas quebradas estava no ponto mais alto, sua cabeça inclinada, olhando para baixo, sem olhos. “O que realmente aconteceu na noite que fomos nela juntos?” eu perguntei.
“Você não quer saber.”
“Se você me disser, vai ter que me matar?” eu meio que brinquei.
“Não estamos sozinhos,” Patch respondeu, olhando através do para-brisa.
Eu olhei para cima e vi minha mãe parada na porta de entrada aberta. Para meu horror, ela saiu e andou em direção ao Jeep.
“Deixe-me conduzir a conversa,” eu disse, guardando o globo de neve de volta na caixa. “Não fale nada. Nenhuma palavra!”
Patch saiu e deu a volta para minha porta. Nós encontramos minha mãe no meio do caminho da entrada de carros.
“Eu não sabia que você ia sair,” ela me disse, sorrindo, mas não de um jeito relaxado. Era uma sorriso que dizia, Vamos conversar mais tarde.
“Foi meio que de última hora,” eu expliquei.
“Eu vim direto para casa depois da yoga,” ela disse. O resto estava implícito. Sorte minha, mas não para você. Eu estava contando com ela ter saído para tomar um suco com suas amigas depois da aula. Nove de dez vezes ela ia. Ela virou sua atenção para o Patch. “É bom finalmente te conhecer. Aparentemente minha filha é uma grande fã sua.”
Eu abri minha boca para uma introdução extremamente concisa e mandar o Patch pegar seu caminho, mas minha mãe se adiantou. “Eu sou a mãe da Nora. Blyte Grey.”
“Esse é o Patch,” eu disse, acelerando meu cérebro para dizer alguma coisa que parasse rapidamente com as gentilezas. Mas a únicas coisas que eu podia pensar era gritar Fogo! ou fingir uma crise. De algum jeito, as duas opções pareciam mais humilhantes que enfrentar uma conversa entre minha mãe e o Patch.
“Nora me disse que você é um nadador,” mamãe disse.
Eu senti o Patch se mexer com uma risada ao meu lado. “Um nadador?”
“Você está no time de natação da escola, ou em uma liga da cidade?”
“É mais... por diversão,” Patch disse, me dando um olhar questionador.
“Bem diversão também é bom,” mamãe disse. “Onde você nada? No centro recreativo?”
“Sou mais um cara tipo ao ar livre. Rios e lagos.”
“Não é frio?” mamãe perguntou.
Ao meu lado, o Patch sacudiu. Perguntei-me o que tinha perdido. Nada sobre a conversa parecia fora do comum. E eu estava do lado da minha mãe nessa. Maine não era um lugar tropical, quente. Nadar ao ar livre era frio, mesmo na época do verão. Se Patch era realmente um nadador ao ar livre, ou ele era louco ou tinha um alto limiar de dor.
“Certo!” eu disse, tirando proveito da calmaria. “Patch precisa ir.” Vá! eu fiz com a boca para ele.
“É um Jeep bem legal,” mamãe perguntou. “Seus pais compraram para você?”
“Eu mesmo peguei.”
“Você deve ter um emprego bom.”
“Eu sirvo mesas no Borderline.”
Patch estava dizendo o mínimo possível, mantendo-se cuidadosamente misterioso. De volta na minha mente, eu não podia parar de pensar no seu passado assustador. Até agora eu tinha fantasiado sobre descobrir seus segredos mais profundos e escuros porque eu queria provar para mim mesma e para o Patch que eu era capaz de sacá-lo. Mas agora eu queria saber seus segredos porque eles eram parte dele. E sem contar o fato que eu rotineiramente tentava negar que eu sentia algo por ele. Quanto mais tempo eu passava com ele, mais eu sabia que esses sentimentos não iam embora.
Mamãe fez uma careta. “Espero que o trabalho não atrapalhe os estudos. Pessoalmente, não acho que estudantes do colegial deveriam trabalhar durante o ano escolar. Vocês já têm muitas coisas.”
Patch sorriu. “Isso não tem sido um problema.”
“Se importa se eu perguntar seu rendimento escolar?” Mamãe disse. “Seria muito rude?”
“Caramba! Está ficando tarde –“, eu comecei a falar alto, consultando o relógio que eu não estava usando. Eu não podia acreditar que minha mãe estava sendo tão mala sobre isso. Era um mau sinal. Isso só dizia que sua primeira impressão do Patch era pior que eu temia. Isso não era uma apresentação. Era uma entrevista.
“Dois-ponto-dois,” Patch disse.
Minha mãe olhou para ele.
“Ele está brincando,” eu disse baixinho. Eu dei um empurrão discreto no Patch em direção ao Jeep. “Patch tem coisas para fazer. Lugares para ir. Pool para jogar –“ Eu coloquei minha mão na boca.
“Jogar?” minha mãe disse, parecendo confusa.
“Nora se referia ao Bo’s Arcade,” Patch explicou. “Mas não é para lá que estou indo. Eu tenho alguns assuntos para resolver.”
“Nunca estive no Bo’s,” ela disse.
“Não é tão bom assim,” eu disse. “Você não está perdendo nada.”
“Espere,” mamãe disse, soando como se uma bandeira vermelha tivesse surgido em sua memória. “É fora da costa? Perto do Delphic Seaport? Não houve um tiroteio no Bo’s alguns anos atrás?”
“Lá está mais domesticado do que costumava ser,” Patch disse. Eu estreitei meus olhos para ele. Ele tinha me ferrado. Eu tinha planejado mentir sobre o Bo’s ter qualquer histórico de violência.
“Você gostaria de entrar e tomar sorvete?” Mamãe perguntou, soando abafada, pega entre fazer uma coisa educada e agir sob o impulso de me levar para dentro e trancar a porta. “Nós temos apenas de baunilha,” ela adicionou para azedar o convite. “Está há algumas semanas aberto.”
Patch balançou a cabeça. “Eu tenho que ir andando. Talvez na próxima vez. Foi um prazer te conhecer, Blythe.”
Eu peguei a interrupção da conversa como minha deixa e empurrei minha mãe para a porta da frente, aliviada que a conversa não tinha sido tão ruim como poderia ter sido. De repente mamãe se virou.
“O que você e Nora fizeram essa noite?” ela perguntou para o Patch.
Patch olhou para mim e ergueu suas sobrancelhas ligeiramente.
“Nós jantamos em Topsham,” eu respondi rapidamente. “Sanduíches e refrigerantes. Uma noite puramente inofensiva.”
O problema era que meus sentimentos por Patch não eram inofensivos.

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