quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sussurro - Capitulo 30

A porta abriu e fechou. Eu esperei ouvir passos se aproximando, mas o único som que ouvi foi o tic-tac do relógio: uma batida rítmica e firme soando através do silêncio.
O som começou a desaparecer. Eu me perguntei se eu o ouviria parar completamente. De repente eu temi esse momento, incerta do que viria depois.
Um som mais vibrante se sobressaiu ao relógio. Foi um som etéreo, tranquilizante, como uma dança no ar. Asas, eu pensei. Vindo me buscar.
Eu segurei minha respiração, esperando, esperando, esperando. Então o relógio começou a ir ao sentido inverso. No lugar de um som lento, veio um mais certo. Um espiral como líquido se formou dentro de mim. Eu estava deslizando através de mim para um lugar escuro e quente.
Meus olhos abriram para painéis de carvalho familiares no teto acima de mim. Meu quarto. Uma sensação de reafirmação me inundou então me lembrei de onde estive. No ginásio com o Jules.
Um tremor percorreu minha pele.
“Patch?” eu disse, minha voz estava rouca de desuso. Eu tentei sentar-me, então dei um choro abafado. Alguma coisa estava errada com meu corpo. Cada osso, músculo, célula estava ferida. Eu me sentia como um hematoma gigante.
Houve um movimento perto da porta. Patch encostou no batente da porta. Sua boca estava pressionada firmemente sem sua pontada de humor usual. Seus olhos estavam mais profundos do que eu jamais tinha visto. Eles estavam afiados por um limite protetor.
“Foi uma boa luta lá no ginásio,” ele disse. “Mas acho que você se beneficiaria com mais algumas aulas de boxe.”
Como uma onda, tudo voltou. Lágrimas rolaram de dentro de mim. “O que aconteceu? Onde está o Jules? Como cheguei aqui?” Minha voz estava rachada com o pânico. “Eu me joguei da viga.”
“Precisou de muita coragem para fazer aquilo.” A voz do Patch se tornou rouca e ele atravessou meu quarto andando. Ele fechou a porta atrás dele e eu sabia que era o jeito dele tentar trancar para fora todo o mal. Ele estava colocando uma divisão entre mim e tudo o que tinha acontecido.
Ele veio e sentou-se na cama ao meu lado. “Do que mais você se lembra?”
Eu tentei juntar os pedaços da minha memória, trabalhando de trás para frente. Eu me lembrei do bater de asas que ouvi logo depois de ter me jogado
da viga. Sem dúvida nenhuma eu sabia que tinha morrido. Eu sabia que um anjo tinha vindo para carregar minha alma.
“Estou morta, não estou?” eu disse baixinho, cambaleando com pavor. “Eu sou um fantasma?”
“Quando você pulou, o sacrifício matou o Jules. Tecnicamente, quando você voltou, ele também deveria ter voltado. Mas já que ele não tinha uma alma, ele não tinha nada para reavivar seu corpo.”
“Eu voltei?” eu disse, esperando que eu não estivesse me enchendo de falsas esperanças.
“Eu não aceitei seu sacrifício. Eu o desfiz.”
Eu senti um pequeno Oh formar-se na minha boca, mas isso nunca passou pelos meus lábios. “Você está dizendo que desistiu de um corpo humano por mim?”
Ele ergueu minha mão enfaixada. Debaixo de toda a gaze, minhas articulações pulsavam por ter batido no Jules. Patch beijou cada dedo, sem pressa, mantendo seus olhos colados nos meus. “O que há de bom em ter um corpo se não posso ter você?”
Lágrimas pesadas rolaram pelas minhas bochechas, Patch me puxou para ele e aconchegou minha cabeça em seu peito. Muito devagar o pânico foi embora e eu soube que tudo tinha acabado. Eu iria ficar bem.
Repentinamente eu me afastei. Se Patch tinha recusado o sacrifício, então – “Você salvou minha vida. Vire-se.” Eu ordenei solenemente.
Patch me deu um sorriso tímido e atendeu meu pedido. Eu ergui sua camiseta até os ombros. Suas costas eram suaves e com a musculatura definida. As cicatrizes tinham sumido.
“Você não pode ver minhas asas,” ele disse. “Elas são feitas de material espiritual.”
“Agora você é um anjo da guarda.” Eu ainda estava muito admirada para envolver minha mente nisso, mas ao mesmo tempo eu senti uma curiosa... Felicidade.
“Eu sou o seu anjo da guarda,” ele disse.
“Eu tenho meu próprio anjo da guarda? No que constitui seu trabalho exatamente?”
“Guardar seu corpo.” Seu sorriso aumentou. “Eu levo meu trabalho a sério, o que significa que vou precisar me familiarizar com o assunto em um nível pessoal.”
Meu estômago ficou todo agitado. “Isso significa que agora você pode sentir?”
Patch me observou em silêncio por um tempo. “Não, mas isso significa que eu não estou na lista negra.”
No andar de baixo, eu escutei o rumor baixo da porta da garagem sendo aberta.
“Minha mãe!” eu engasguei. Eu encontrei o relógio na mesa de cabeceira. Era pouco depois das suas da manhã. “Eles devem ter aberto a ponte. Como essa coisa de anjo da guarda funciona? Sou a única pessoa que pode te ver? Quero dizer, você é invisível para as outras pessoas?”
Patch me encarou como se ele esperasse que eu não estivesse falando sério.
“Você não é invisível?” eu guinchei. “Você tem que dar o fora daqui!” Eu fiz um movimento para empurrar o Patch para fora da cama, mas fui interrompida por um golpe seco nas minhas costelas. “Ela vai me matar se te encontrar aqui. Você pode escalar árvores? Diga-me que você pode escalar uma árvore!”
Patch sorriu. “Eu posso voar.”
Oh. Certo. Bem, okay.
“A polícia e o departamento de bombeiros estiveram aqui mais cedo,” Patch disse. “A suíte principal vai precisar de reforma, mas eles impediram que o fogo se alastrasse. A polícia vai voltar. Eles vão fazer algumas perguntas. Se eu tivesse que adivinhar, eles tentaram te rastrear pelo telefone que você ligou para o 911.”
“O Jules o pegou.”
Ele fez um aceno com a cabeça. “Eu imaginei. Eu não me importo com o que você vai dizer a polícia, mas eu agradeceria se me deixasse fora disso.” Ele deslizou a janela do meu quarto para abrir. “Uma última coisa. A Vee trouxe a polícia a tempo. Os paramédicos salvaram o Elliot. Ele está no hospital, mas ele vai ficar bem.”
Eu ouvi a porta fechar no andar debaixo, no fim das escadas.
Mamãe estava dentro de casa.
“Nora?” ela chamou. Ela jogou sua bolsa e chaves na mesa de entrada. Seus saltos altos faziam barulho no chão de madeira, quase em um ritmo de corrida. “Nora! Tem fita da polícia na porta da frente! O que está acontecendo?”
Eu olhei para a janela. O Patch já tinha ido, mas uma única pena preta estava presa na parte de fora do vidro, por causa da chuva da noite passada. Ou pela mágica de anjo.
No andar de baixo, minha mãe acendeu a luz da entrada, um fraco raio de luz se esticou por debaixo da minha porta. Segurei minha respiração e contei os segundos, sabendo que eu tinha mais dois antes –
Ela gritou. “Nora! O que aconteceu com o balaústre!”
Bom saber que ela ainda não tinha visto seu quarto ainda.
O céu estava perfeito, lavado de azul. O sol estava apenas começando a aparecer no horizonte. Era segunda-feira, um novo dia, os horrores das últimas vinte e quatro horas ficaram para trás. Tive cinco horas de sono completo e todas as outras que a dor em todo o meu corpo por ter sido sugada pela morte e em seguida ter sido cuspida de volta permitiram, eu me sentia extraordinariamente renovada. Eu não queria uma ter nuvem negra no momento, lembrando-me que a polícia estava para chegar a qualquer momento para tomar meu depoimento dos eventos da noite passada. Eu ainda não tinha pesado no que iria dizer a eles.
Fui para o banheiro com minha camisola – bloqueando mentalmente a pergunta de como tinha colocado ela, já eu provavelmente estava usando as roupas da noite anterior quando Patch me trouxe para casa – e cumpri minha rotina matinal. Joguei água fria no rosto, escovei os dentes e domei meu cabelo com uma faixa elástica. No meu quarto, coloquei uma camiseta e calça limpas.
Eu liguei para a Vee.
“Como você está?” eu perguntei.
“Bem. Como você está?”
“Bem.”
Silêncio.
“Okay,” Vee disse rapidamente, “Ainda estou surtando. E você?”
“Completamente.”
“Patch me ligou no meio da noite. Ele disse que Jules foi muito violento com você, mas que você estava bem.”
“Sério? Patch te ligou?”
“Ele ligou do Jeep. Ele disse que você estava dormindo no banco de trás e iria te levar para casa. Ele disse que aconteceu de ele estar passando perto da escola quando ele ouviu um grito. Ele disse que encontrou você no ginásio, mas você tinha desmaiado de dor. Depois ele olhou para cima e viu Jules pular da viga. Ele disse que o Jules deve ter pirado, um efeito colateral da culpa pesada que sentiu por ter aterrorizado você.”
Eu não tinha percebido que estava segurando a respiração até tê-la soltado. Obviamente o Patch tinha manipulado alguns detalhes.
“Você sabe que não acredito nisso,” Vee continuou. “Você sabe que acho que o Patch matou o Jules.”
Na posição da Vee, provavelmente eu teria pensado o mesmo. Eu disse, “O que a polícia acha?”
“Ligue a TV. Tem uma cobertura ao vivo agora no canal cinco. Eles estão dizendo que o Jules invadiu a escola e pulou. Eles estão se referindo a isso como um trágico suicídio adolescente. Eles estão pedindo para as pessoas que tem informações ligarem para o telefone que está na parte de cima da tela.”
“O que você disse para a polícia quando você os chamou pela primeira vez?”
“Eu estava apavorada. Eu não queria ser presa por invasão. Então liguei como anônima de um telefone público.”
“Bem,” eu disse afinal, “se a polícia está tratando isso como suicídio, eu acho que foi isso que aconteceu. Afinal são tempos modernos na América. Temos o benefício dos peritos.”
“Você está escondendo alguma coisa de mim,” a Vee disse. “O que aconteceu realmente depois que eu saí?”
Era aqui que a coisa complicava. Vee era minha melhor amiga e nós vivíamos sob o lema: Sem Segredos. Mas algumas coisas eram impossíveis de explicar. O fato do Patch ser um anjo caído convertido em anjo da guarda estava no topo da lista. Logo abaixo estava o fato de eu ter pulado da viga e morrido, mas eu ainda estou viva hoje.
“Eu me lembro do Jules encurralando-me no ginásio,” eu disse. “Ele me contou toda a dor e medo que iria me infligir. Depois disso, os detalhes ficam nebulosos.”
“É muito tarde para desculpas?” Vee disse, parecendo mais sincera do que ela já tinha sido em toda nossa amizade. “Você estava certa sobre o Jules e o Elliot.”
“Desculpas aceitas.”
“Nós deveríamos ir fazer compras,” ela disse. “Sinto essa necessidade irresistível de comprar sapatos. Muitos deles. O que nós precisamos é de uma boa e velha terapia de compras de sapatos.”
A campainha tocou e eu olhei para o relógio. “Tenho que dar meu depoimento para a polícia sobre o que aconteceu na noite passada, mas eu te ligo depois disso.”
“Noite passada?” O tom da Vee denunciava pânico. “Eles sabem que você estava na escola? Você não deu meu nome para eles, deu?”
“Na verdade uma coisa aconteceu antes.” Alguma coisa chamada Dabria. “Te ligo logo,” eu disse, desligando antes de ter que mentir para dar outra explicação.
Mancando pelo corredor até o topo da escada onde vi quem minha mãe tinha convidado a entrar.
Os detetives Basso e Holstijic.
Ela os acompanhou até a sala e embora o detetive Holstijic colapsou no sofá, o detetive Basso permaneceu em pé. Ele estava de costas para mim, mas um degrau rangeu no meio da minha descida e ele se virou.
“Nora Grey,” ele disse com sua voz de policial durão. “Encontramos-nos novamente.”
Minha mãe piscou. “Vocês já se encontraram antes?”
“Sua filha tem uma vida excitante. Parece que estamos aqui toda semana.”
Minha mãe me deu um olhar questionador e eu ergui os ombros, sem pistas, como se fosse para adivinhar, piadinha de policial?
“Por que você não se senta, Nora, e nos conte o que aconteceu,” o detetive Holstijic disse.
Eu me acomodei em uma das poltronas macias do lado oposto do sofá. “Antes das nove, na noite passada, eu estava na cozinha tomando leite com chocolate quando a Srta. Greene, minha psicóloga da escola apareceu.”
“Ela simplesmente entrou na sua casa?” o detetive Basso perguntou.
“Ela me disse que eu tinha algo que ela queria e foi quando eu corri para o andar de cima e me tranquei na suíte principal.”
“Volte,” disse o detetive Basso. “O que era essa coisa que ela queria?”
“Ela não disse. Mas ela mencionou que não era uma psicóloga de verdade. Ela disse que estava usando o emprego para espionar os alunos.” Eu olhei para todos. “Ela é louca, né?”
Os detetives trocaram olhares.
“Vou anotar o nome dela e ver o que posso encontrar,” o detetive Holstijic disse, ficando em pé.
“Deixe-me ver se entendi direito,” o detetive Basso me disse. “Ela te acusou de roubar uma coisa que pertencia a ela, mas ela nunca disse o que era?”
Outra pergunta complicada. “Ela estava histérica. Eu entendia apenas metade do que ela estava dizendo. Eu corri e me tranquei dentro da suíte principal, mas ela arrebentou a porta. Eu estava escondida dentro da chaminé da lareira, ela disse que iria queimar a casa cômodo por cômodo para me encontrar. Então ela começou o fogo. Bem ali, no meio do quarto.”
“Como ela começou o fogo?” minha mãe perguntou.
“Eu não consegui ver. Estava na chaminé.”
“Isso é loucura,” o detetive Basso disse, chacoalhando a cabeça. “Nunca vi nada parecido antes.”
“Ela vai voltar?” minha mãe perguntou para os detetives, vindo para ficar ao meu lado e colocou suas mãos protetoramente no meu ombro. “Nora está salva?”
“Talvez queira ver sobre instalação de um sistema de alarme.” Detetive Basso abriu sua carteira e deu um cartão para mamãe. “Eu confio nesses caras. Diga a eles que eu indiquei e eles darão um desconto para você.”
Algumas horas depois que os detetives saíram, a campainha tocou novamente.
“Deve ser da empresa de alarme,” mamãe disse, me encontrando no corredor. “Eu liguei e eles disseram que mandariam alguém hoje. Não posso dormir sem algum tipo de proteção até eles encontrarem a Srta. Greene e a trancarem em algum lugar. A escola se deu ao trabalho de checar as referências dela?” Ela abriu a porta e o Patch estava parado na entrada. Ele usava uma Levi’s desbotada, uma camiseta branca confortável e segurava uma caixa de ferramentas na mão esquerda.
“Boa tarde, Sra. Grey.”
“Patch.” Não consegui distinguir o tom da minha mãe. Surpresa misturada com confusão. “Você está aqui para ver a Nora?”
Patch sorriu. “Estou aqui para inspecionar sua casa para o novo sistema de alarme.”
“Achei que você tinha um emprego diferente,” mamãe disse. “Achei que você servia mesas no Borderline.”
“Eu tenho um trabalho novo.” Patch fixou seus olhos nos meus e eu esquentei em muitos lugares. Na verdade, eu estava perigosamente perto de ferver. “Aqui fora?” ele me perguntou.
Eu o segui até sua moto.
“Ainda temos muito que conversar,” eu disse.
“Conversar?” Ele chacoalhou a cabeça, seus olhos cheios de desejo. Beijar, ele sussurrou nos meus pensamentos.
Não era uma pergunta, mas um aviso. Ele sorriu quando eu não protestei e abaixou sua boca até a minha. O primeiro toque foi apenas isso – um toque. Uma provocação, atraente suavidade. Lambi meus lábios e o sorriso do Patch se aprofundou.
“Mais?” ele perguntou.
Eu entrelacei minhas mãos em seus cabelos, trazendo-o para mais perto. “Mais.”

                                                        FIM...?

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